“O direito era sua vida. O velho ditado de que o direito é uma amante ciumenta passava a um novo nível com pessoas como Abraham e eu. O direito era tudo que tínhamos”
Como estudante de Direito que não se imagina fazendo outro curso, me sinto naturalmente atraído por livros que possuam essa temática jurídica. Ainda não conhecia o trabalho de John Grisham quando adquiri três de suas obras: O Advogado – O Recurso – A Intimação. Naturalmente, as pessoas que não tenham um cotidiano focado nas áreas forenses podem sentir um desinteresse comum nessas leituras, mas a obra em comento traz alguns questionamentos pertinentes que podem ser aplicados em diversas searas profissionais quanto pessoais.
Michael Brock, nosso protagonista, é um advogado promissor. Atuando numa das firmas mais bem-sucedidas dos Estados Unidos, vê sua vida mudar drasticamente por um acontecimento. Ele e demais colegas advogados são feitos de refém por um sem-teto que se auto denominava “Senhor”. No pânico da situação, os advogados se sentiam acuados ao passo em que o seu sequestrador pede para ver extratos financeiros de suas vidas. Logo, fica claro que os advogados ali presentes são donos de consideráveis fortunas. O sequestrador, então, questiona quanto daquela fortuna eles doaram para a caridade, para pessoas que vivem na rua, para abrigos e etc.
Como era de se esperar, nenhum daqueles profissionais tinha realizado tais altruísmos, o que preocupou a todos já que suas vidas estavam por um fio. Ao fim do sequestro, Michael Brock vê sua vida tomar um rumo distinto. As horas como refém o fizera perceber uma realidade há tanto ignorada, mesmo que estivesse diante dos seus olhos todos os dias: o mundo dos mendigos, pedintes, sem-teto, que dependem de ajuda dos outros para sobreviver no frio da capital. Curioso, decide investigar a vida de Senhor e descobre uma clínica de advocacia para os sem-teto, em que os advogados não lucravam em cima de seus clientes – diferentemente da sua firma, em que simples cópias eram integradas às contas dos jurisdicionados.
Ele descobre, então, o que motivou Senhor ao realizar aquele ato. Sua milionária firma de advocacia expulsara ele e os demais sem-teto de maneira ilegal e às escuras de um galpão vendido por um de seus clientes, lançando para as ruas várias famílias no frio do inverno estadunidense, causando a morte de uma família inteira. Michael, então, abandona a sua milionária firma e se junta a clínica de advocacia dos sem-teto, ganhando pouco, na defesa do interesse público. Sua rotina vira de cabeça para baixa e passa a visitar abrigos, paróquias, albergues… E conhece a triste vida dos desabrigados, muitas vezes viciados em drogas, desmoralizados, esquecidos, invisíveis. Seu objetivo, agora, é reestabelecer a dignidade e a memória daqueles sem-teto através de um processo judicial contra sua antiga firma por conta da expulsão ilegal acima mencionada.
Sem mais detalhes do enredo, posso afirmar que “O Advogado” é uma história bem escrita, cativante, consegue prender o leitor a narrativa – diferentemente do outro livro de Grisham que li – e traz uma bela história de redenção e mudança. Por certo, a história chega a ser forçada em alguns momentos, distancia-se demais de uma realidade que quer demonstrar, mas certamente rende uma boa leitura. É, principalmente, uma história de mudança e transformação pessoal, de rumos profissionais – aonde você quer chegar, e por que? – que servem para qualquer profissional, seja ele do direito ou não.