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“O direito era sua vida. O velho ditado de que o direito é uma amante ciumenta passava a um novo nível com pessoas como Abraham e eu. O direito era tudo que tínhamos”

Como estudante de Direito que não se imagina fazendo outro curso, me sinto naturalmente atraído por livros que possuam essa temática jurídica. Ainda não conhecia o trabalho de John Grisham quando adquiri três de suas obras: O Advogado – O Recurso – A Intimação. Naturalmente, as pessoas que não tenham um cotidiano focado nas áreas forenses podem sentir um desinteresse comum nessas leituras, mas a obra em comento traz alguns questionamentos pertinentes que podem ser aplicados em diversas searas profissionais quanto pessoais.

Michael Brock, nosso protagonista, é um advogado promissor. Atuando numa das firmas mais bem-sucedidas dos Estados Unidos, vê sua vida mudar drasticamente por um acontecimento. Ele e demais colegas advogados são feitos de refém por um sem-teto que se auto denominava “Senhor”.  No pânico da situação, os advogados se sentiam acuados ao passo em que o seu sequestrador pede para ver extratos financeiros de suas vidas. Logo, fica claro que os advogados ali presentes são donos de consideráveis fortunas. O sequestrador, então, questiona quanto daquela fortuna eles doaram para a caridade, para pessoas que vivem na rua, para abrigos e etc.

Como era de se esperar, nenhum daqueles profissionais tinha realizado tais altruísmos, o que preocupou a todos já que suas vidas estavam por um fio. Ao fim do sequestro, Michael Brock vê sua vida tomar um rumo distinto. As horas como refém o fizera perceber uma realidade há tanto ignorada, mesmo que estivesse diante dos seus olhos todos os dias: o mundo dos mendigos, pedintes, sem-teto, que dependem de ajuda dos outros para sobreviver no frio da capital. Curioso, decide investigar a vida de Senhor e descobre uma clínica de advocacia para os sem-teto, em que os advogados não lucravam em cima de seus clientes – diferentemente da sua firma, em que simples cópias eram integradas às contas dos jurisdicionados.

Ele descobre, então, o que motivou Senhor ao realizar aquele ato. Sua milionária firma de advocacia expulsara ele e os demais sem-teto de maneira ilegal e às escuras de um galpão vendido por um de seus clientes, lançando para as ruas várias famílias no frio do inverno estadunidense, causando a morte de uma família inteira. Michael, então, abandona a sua milionária firma e se junta a clínica de advocacia dos sem-teto, ganhando pouco, na defesa do interesse público. Sua rotina vira de cabeça para baixa e passa a visitar abrigos, paróquias, albergues… E conhece a triste vida dos desabrigados, muitas vezes viciados em drogas, desmoralizados, esquecidos, invisíveis. Seu objetivo, agora, é reestabelecer a dignidade e a memória daqueles sem-teto através de um processo judicial contra sua antiga firma por conta da expulsão ilegal acima mencionada.

Sem mais detalhes do enredo, posso afirmar que “O Advogado” é uma história bem escrita, cativante, consegue prender o leitor a narrativa – diferentemente do outro livro de Grisham que li – e traz uma bela história de redenção e mudança. Por certo, a história chega a ser forçada em alguns momentos, distancia-se demais de uma realidade que quer demonstrar, mas certamente rende uma boa leitura. É, principalmente, uma história de mudança e transformação pessoal, de rumos profissionais – aonde você quer chegar, e por que? – que servem para qualquer profissional, seja ele do direito ou não.

Adeus, China.

“Esta é minha história. Aqui estão minhas recordações daqueles anos na China de Mao. É a história da minha família. É minha jornada, desde as lembranças mais remotas, passando pela descoberta da dança, até a vida no Ocidente. Os registros históricos podem ser outros, muita gente pode ter lembranças diferentes. Para mim, porém, os relatos são hoje tão verdadeiros como sempre foram. Neles estão os tesouros do meu coração”.

A história verídica do bailarino Li Cunxin é retratada em sua autobiografia de uma maneira magnífica. O autor relata a sua história de vida, da grande miséria e das dificuldades atravessadas pela sua família na China de Mao até o inesperado sucesso no ocidente, como um bailarino.

Li Cunxin era uma criança chinesa qualquer. Pobre, pertencente a uma família camponesa sem quaisquer expectativas de um futuro melhor, morava numa vila em condições precárias. Sobreviviam com pouco dinheiro e muito trabalho. Certo dia, porém, pessoas diferentes apareceram na escola. Eram os delegados culturais da Madame Mao que buscavam camponeses para denotar a visão artística de Mao para a China. Como um acaso do destino e sem nenhuma razão aparente, quando os delegados já estavam de saída, sua professora apontou-o e perguntou: “Que tal aquele dali?”

A partir daí, a vida de Li Cunxin começa a mudar. Deixa para trás sua vida de camponês para se dedicar ao balé, na Academia de Dança de Pequim, com a esperança de mudar a sua vida. Deixa para trás também o carinho de sua família – é impossível não sentir uma empatia ao ver que o autor abandona o seu porto seguro, a niang, sua mãe, e vai morar com outros jovens na barulhenta e povoada Pequim, atravessando momentos difíceis e desesperadores, mas não abandonando a vontade de seguir em frente e dar um novo rumo para sua vida.

A história é inspiradora – como um jovem camponês conseguiu, por um acaso do destino, se tornar um grande bailarino, reconhecido mundialmente? – e recomendo inteiramente a leitura. Envolve coragem, anseios e um amor materno impressionante. Sem exageros, o leitor sente na pele a susto e a tristeza do autor quando o mesmo já crescido, em sua primeira viagem aos EUA, olha o preço de um simples café e percebe que aquela quantia é equivalente a um ano inteiro de trabalho sofrido dos seus familiares.

Toda a narrativa é escrita de um modo bastante simples e fluído. O autor, ao narrar a história de sua vida, consegue prender o leitor com toda a propriedade, nos envolvendo em suas memórias de tal maneira que, quando percebermos, já estamos imersos em toda a trajetória de sua vida e carreira, da pobreza mais sofrível no noroeste da China ao estrelato no Ocidente.

Recomendo a obra para todos aqueles que desejam ler uma história inspiradora, sem grande floreios, exageros ou dramas desnecessários. A narrativa é impecável e mostra aonde cada ser humano pode chegar com o fruto dos seus esforços.

 

 

Reativando o Blog

O tempo é mesmo uma coisa engraçada. Já se passaram quase dois anos desde a última postagem que fiz por aqui. A faculdade e os planos para o intercâmbio que fiz à época me tomaram bastante tempo. De lá para cá, já li tantos livros e sinto a falta de apontar as minhas impressões aqui no blog. Nesse sentido, reativo o Devorando Livros com o intuíto de passar as minhas impressões do que foi lido de um modo claro e simples. A intenção principal é o incentivo e fomento a leitura, um hobby tão prazeroso e tão pouco exercitado atualmente. Daqui a pouco, uma nova postagem sobre um dos melhores livros que li este ano: “Adeus, China”.

“A anti-matéria é o anti-cristo

Cientistas – Satanistas,

onde está o seu deus agora?

anjos-e-demonios-livro

Um dos autores mais lidos – e um dos mais polêmicos também – traz nessa obra a primeira aventura de Robert Langdon. Dan Brown e seu personagem Robert Langdon ficaram mundialmente famosos após a publicação de “O Código Da Vinci”, que causou muita discórdia entre religiosos (o que eu não vejo razão, já que se trata de uma ficção). Após a boa vendagem de “O Código”, foi publicado no Brasil “Anjos e Demônios”. Apesar de, no Brasil, “Anjos e Demônios” ser publicado após  “O Código Da Vinci”, ele foi escrito antes,  assim como o enredo se passa cronologicamente antes da história que deixou Dan Brown conhecido internacionalmente.

É fato que Dan Brown escreve seus livros sobre a mesma fórmula. Eu li todos os livros dele (O Código Da Vinci, Anjos e Demônios, Ponto de Impacto e Fortaleza Digital), e posso afirmar que todos os enredos se sucedem de forma semelhante: algum personagem é assassinado no início -> surge o protagonista (homem ou mulher) e junto com eles aparece um personagem do sexo oposto que irá ser útil durante a história e ficarão juntos no final ->  o assassino mostrado na primeira página tem sua história se revezando entre os capítulos com o protagonista -> há um grande segredo prestes a ser revelado, e isso tem que ser impedido -> uma sucessão de cenas de ação com um certo “quê” de teoria da conspiração” -> o culpado de toda a problemática é alguém que se mostrava “do lado do bem” desde o início. -> cenas finais, protagonistas ficam juntos após muitas dificuldades. Pronto, agora você sabe tudo o que irá acontecer na história, se você comprar algum livro do Dan Brown.

Não espere que todo autor revolucione a literatura, nem que sua obra lhe ensine uma grande lição de vida. Apesar da fórmula repetida em todas as obras, afirmo que se Dan Brow lançar mais algum livro, eu lerei. Simplesmente porque a fórmula funciona, apesar de tudo. Quem se envolve muito no enredo chega a ler 150 páginas por dia. As cenas são bem descritas, emocionantes, enfim, divertidas. Garantia de entretenimento.

Tendo dito isto, passo agora para “Anjos e Demônios”. Dentre as obras de Dan Brown que eu poderia comentar, escolhi esta pelo teor apocalíptico dela (adoro filmes e livros com esse teor de “fim de mundo”, como Impacto Profundo, O Dia Depois de Amanhã, etc.). Há uma grande conspiração para a destruição do Vaticano por um grupo denominado Illuminati (esse grupo realmente existiu), através de uma arma poderosa, constituida pela anti-matéria.  A conspiração é mostrada através da mídia, e o mundo inteiro acompanha a eminente destruição do Vaticano. Imagine a seguinte cena: são 11 horas da noite, a Praça e a Basílica de São Pedro às escuras (por falta de energia), um papa assassinado, cardeais trancados no conclave, o Vaticano lotado por pessoas que acompanham o desenrolar dos fatos, enquanto a imprensa mundial transmite os eventos por todo o planeta,  enquanto os protagonistas tentam desesperadamente achar a arma de destruição em massa antes que seja tarde demais. Essa cena, dentre outras, empolgam o leitor para acompanhar a catástrofe que está por vir. Ponto para o Dan Brown, apesar de sua fórmula repetitiva, ele consegue prender você a leitura.

Por fim, aviso que “Anjos e Demônios” está prestes a virar filme: será lançado em maio deste ano. Espero que os leitores do blog se sintam animados para realizar essa leitura. Como disse antes (agora eu é que estou sendo repetitivo), apesar da fórmula, vale a pena.

“Atrás deles vinham a coluna interminável de fantasmas. O túnel estava cheio de susurros,  pois os que vinham mais à frente encorajam os que vinham atrás, enquanto os fortes de coração encorajavam os fracos, e os velhos davam esperanças aos jovens.”

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A capa mais bonita. O livro mais grosso, e mais bem editado. Como havia prometido, chegamos ao fim da trilogia “Fronteiras do Universo”, em seu episódio final: “A Luneta Âmbar”.

Confesso que fiquei um pouco decepcionado ao ler o desfecho dessa trilogia. Esse livro não superou as minhas expectativas, esperava algo mais grandioso, tão emocionante e envolvente quanto “A Faca Sútil”. Encontrei situações verdadeiramente bizarras, mesmo tratando-se de um livro de fantasia. O livro varia entre o “ótimo” e o “chato” por muitas vezes.

Apesar disso, essa obra consegue trazer um grande fascínio ao leitor. Existem situações bizarras, sim. Mas existem também momentos encantadores e surpreendentes: a entrada de Lyra e Will no mundo dos mortos, numa jornada sem destino, é uma delas. Acho que um dos momentos mais curiosos e deliciosos de se imaginar é a entrada dos protagonistas vivos no universo das almas, dos mortos, que é ligeiramente sombrio, mas de certa maneira, é fascinante, de uma maneira que eu não consigo explicar o porquê – poder e esplendor talvez descrevam melhor a cena visualizada pelo leitor durante essa jornada específica.

Sendo o desfecho dessa trilogia, a leitura desse livro é essencial para quem quer descobrir como os protagonistas terminam essa misteriosa e imprevisível jornada. O livro não é de tão bom quanto “A Faca Sutil”, o melhor livro da série, mas não é ruim.

Essa trilogia foi terminada no ano 2000, e fiz questão de colocar as capas mais antigas, antes do primeiro livro ser transformado num filme meia boca, fazendo com que as capas da trilogia mudassem para uma versão mais cinematográfica. Provavelmente não se encontra mais as versões antigas dessa trilogia nas livrarias, e a nova formatação, juntamente com as capas novas, tiram um pouco do esplendor dessa obra…

Termino aqui os comentários sobre a trilogia “Fronteiras do Universo”. Até o próximo post.

“Então o daemon desapareceu. Mas o piloto ainda estava vivo; seus olhos tornaram-se opacos e a mão estendida caiu flacidamente sobre o manete, ele parecia vivo, mas não estava vivo: estava indiferente a tudo.”

214-0Continuando a tentativa de postar seguidamente sobre a trilogia “Fronteiras do Universo”, é com muita satisfação que venho comentar a respeito de “A Faca Sutil”, que é, sem dúvida alguma, o melhor livro da série.

Enquanto “A bussóla dourada” se passava num universo relativamente parecido com o nosso, o segundo livro reveza-se entre os universos, e os protagonistas são capazes de abrir uma passagem entre eles com um instrumento: a faca sutil. Observe a ilustração da capa, em que vemos a faca cortando o ar, fazendo uma janela entre os universos.

Nesse volume, vemos um novo protagonista na história: Will. Com uma mãe deficiente e um pai desaparecido, Will mata um homem por acidente  e em sua fuga, descobre por acaso uma fenda no ar. Ele se aproxima e percebe que estava diante de uma espécie de janela, em que ele podia ver através uma cidade totalmente diferente da que ele estava. Ele então a atravessa, e de repente percebe que está numa cidade litorânea abandonada, em um outro universo.

Em Citàgazze, Will e Lyra se encontram, e descobrem que a cidade é habitada por espectros mortíferos – e por isso que não havia ninguém lá. Só existe um talismã capaz de repelir esses espectros, que é a faca sutil.

Numa jornada incessante, Lyra e Will se encontram em uma trama cheia de mistérios e suspense.

O segundo livro da trilogia “Fronteiras do Universo” é muito bom, mesmo para adultos, suponho, pois li esse livro aos 15 anos de idade.  O autor soube coordenar as cenas de suspense e ação de tal maneira que nos sentimos muito envolvidos na leitura. “A Faca Sutil” é um livro muito, mas muito bom. Li duas vezes. Talvez, ele seja responsável por eu ter gostado da saga. “A Bússola” é bom, mas não chega aos pés do trabalho feito em “A Faca”.

Como estou comentando sobre a trilogia Fronteiras do Universo, meu próximo post será, obviamente, sobre o livro que conclui a saga. De antemão, digo que se “A luneta ambar” não fosse a continuação de “A Faca Sutil”, eu não o indicaria, pois é decepcionante em muitos aspectos, mas para continuar a respeito dessa trilogia, sinto a necessidade de escrever sobre ele também.

Mas só no próximo post…

Até mais.

“Lyra virou-se, com alegria e alívio, mas um focinho pesado empurrou-a pelas costas e jogou-a no chão; sem folêgo para levantar-se, a menina ficou caída, ofegante e trêmula,  pois no lugar onde ela estivera de pé havia agora a pena verde de uma flecha; a ponta e o cabo estavam enterrados na neve. ‘Impossível!’, ela pensou.”

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Como já mencionei anteriormente, gosto muito de ler trilogias. Durantes esses dias, pretendo comentar a respeito da trilogia “Fronteiras do Universo”, de Philip Pullman, composta pelos livros “A bússola dourada”, “A faca sútil” e “A luneta âmbar”.

A história começa em um universo semelhante ao nosso, mas com algumas diferenças importantes, e a maior delas é que as almas das pessoas estão visivéis, no exterior, através de daemons. Os daemons se mostram como animais, andando sempre ao lado do seu dono. Assim, o animal em que sua alma se apresenta reflete a sua personalidade, à vista de todos os outros. Por exemplo, se seu daemon tem a forma de um cachorro, você tem características de obediência e servidão. Se o seu daemon tem uma forma de pantera, você é alguém que manda. Os daemons tem forma fixa nos adultos, que já tem sua personalidade formada;  os daemons das crianças mudam frenquetemente de forma – cachorro, gato, serpente, vespa… – pois as crianças ainda não estão verdadeiramente formadas.

Nessa história, entra a protagonista Lyra e seu daemon Pantalaimon, que evitam, por acaso, o assassinato do reitor da universidade e tio da protagonista. Ouvindo a conversa alheia, Lyra descobre a possibilidade de existência de universos paralelos. Ocorre uma sequência de eventos, que eu não menciono para não estragar a surpresa de ninguém, e Lyra se encontra confusa, em perigo, e com um estranho artefato em suas mãos: o aletômetro.

Ela descobre então que tal artefato, semelhante a uma bússola, mostra a verdade, que deve ser interpretada na leitura dos símbolos. (O aletômetro é a ilustração da capa).

Lyra enfrenta então uma perigosa jornada, tentando evitar que o aletômetro caia em mãos erradas, tentando descobrir mais sobre um misterioso que cai da abertura entre os universos e desejando salvar o seu amigo que foi sequestrado para fins experimentais. Em sua jornada, Lyra conhece ursos de armadura, bruxas que voam em galhos de pinheiro e crianças que morrem quando perdem seu daemon, sua alma.

Esse universo fantasioso fascina crianças e adultos, numa leitura rica de conceitos e extremamente inteligente. A trilogia “Fronteiras do Universo” é boa nesse aspecto: nenhuma pergunta fica sem resposta.

Esse livro, especificamente, é o 2º melhor da trilogia, e é capaz de empolgar pessoas de qualquer idade. Uma leitura recomendada. Infelizmente, a leitura as vezes se torna cansativa, pois os personagens estão sempre viajando, viajando, viajando… E o início também não é muito empolgante, pois a descrição dos momentos de Lyra em Oxford – brincadeiras, diversão de crianças pregando peças – não anima um leitor mais adulto que quer ver um pouco de ação. No entanto, depois que esses momentos passam, existem partes em que você segura o fôlego para ver o que acontece. Eu, pelo menos, me envolvi muito nessa leitura.

Esse livro já possui sua adaptação para os cinemas, que, sinceramente, achei muito fraca e sem sal, apesar dos efeitos especiais e da “ilustre” presença de Nicole Kidman e Daniel Craig, deixando muito a desejar. Se eu visse o filme sem ler o livro que o inspirou, acabaria sem interesse de lê-lo.

Posteriormente comentarei a respeito das obras que continuam a trilogia. Até mais.

“Arrastei-me até lá, mas a rede de fendas crescia sob minhas mãos e a cercava. Apenas alguns metros nos separavam, quando ouvi o gelo se partir e ceder sob os seus pés. Uma goela negra abriu-se embaixo dela e a engoliu como um poço de alcatrão. Assim que desapareceu sob a superfície, as placas de gelo se uniram fechando a abertura. (…) As últimas borbulhas de ar escaparam de seus lábios e suas pupilas dilataram-se pela última vez. Um segundo depois, lentamente, começou a mergulhar para sempre na escuridão.”

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O primeiro livro que li de Zafón foi “A sombra do vento”. Confiando no trabalho do autor por ter gostado da primeira obra, adquiri “O jogo do anjo”, e fiquei satisfeito por certos personagens e lugares de “A sombra do vento” estarem inseridos nessa obra também, embora de maneira menos importante.

“O jogo do anjo” é narrado em 1ª pessoa. Seu protagonista é o jovem escritor David Martín, que não teve uma vida fácil: abandonado pela mãe, viu o pai ser assassinado em sua frente. Gostava de livros, e um de seus lugares favoritos é a livraria Sempere e Filhos, presente também em “A sombra”. David descobre o seu talento para a literatura, e habitua-se a vender por quase nada o fruto de seus trabalhos.

O tempo vai passando e David vai ficando muito doente. Sempre pálido, descobre que não tem muito tempo pela frente. Eis que surge uma oportunidade irrecusável: escrever um livro para um editor francês chamado Andreas Corelli, que o pagaria uma grande quantia em dinheiro e ainda traria sua saúde de volta.

David aceita a oferta sem nem saber do que se trata o livro que escreveria, quando o seu patrão diz que quer que David crie uma nova religião. Sem entender muito bem as razões para aquilo, começa a trabalhar nisso.

Por uma série de conhecidências (que não pretendo contar para não estragar a surpresa de alguém que por ventura queira ler o livro), David encontra-se numa trama macabra, cheia de suspeitas.

Nessa história, surgem personagens encantadores: Isabella, Cristina, Sempere, e outros nem tão encantadores, como Marcos e Castelo. Em posts anteriores, reclamei que “cenas de ação” de certos livros deixavam a desejar. Em “O jogo”, as cenas de ação e terror são de tirar o fôlego. Apesar de uma parte do livro ser ligeiramente entediante, o clima de terror e o banho de sangue que se instalam no desfecho do livro é de fazer inveja a qualquer autor do gênero do terror. De verdade.

O desfecho, porém, é levemente desapontador e sem lógica. O autor não faz a ligação que certos personagens precisavam, nem mostra como certos fatos que aconteceram sem nenhuma explicação lógica foram possíveis, o que deixa um vazio no enredo e uma grande confusão na cabeça do leitor. Eu, por exemplo, prefiro não acreditar no teor “sobrenatural” de certos acontecimentos, e apego-me a teoria de que nos tratamos de um protagonista esquizofrênico, que, enquanto narra sua história, descreve situações irreais e fantasiosas (lembre-se que essa história é narrada em primeira pessoa). Ainda assim, fica uma sensação de frustração, pois algumas perguntas ficam sem respostas.

Apesar de tudo isso, não é a toa que “O jogo” já figura nos destaques desse ano. Fica aqui a dica, mas ressalto que esse livro é para quem gosta de quebrar a cabeça em tramas realmente complexas. Se você não gosta, nem tente ler. Você só vai ficar confuso.

Ainda pretendo postar uma vez esse ano, mas se não o fizer, desejo a todos um bom reveillon. Até mais!

“Eu sabia que, se nunca tivesse ido a Forks, agora não estaria diante da morte. Mas, embora estivesse apavorada, não conseguia me arrepender da decisão. Quando a vida lhe oferece um sonho muito além de todas as suas expectativas, é irracional se lamentar quando isso chega ao fim.  O caçador sorriu de um jeito simpático enquanto avançava para me matar”.

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Você com certeza já deve ter ouvido falar de Crepúsculo. Não? Talvez tenha ouvido falar de Twilight, então. Se você ainda não sabe do que estou falando, então certamente está por fora de uma das maiores febres literárias da atualidade. Crepúsculo, da autora norte-americana Stephenie Meyer, encabeça a lista dos mais vendidos em diversos países, inclusive no Brasil.

Hoje, como já deu para perceber, resolvi postar a respeito dessa obra, que é o primeiro livro de uma série de 4 – Crepúsculo, Lua Nova, Eclipse e Breaking Dawn (estes dois últimos ainda sem tradução para o português brasileiro). Inegavelmente, sou fã de trilogias.  Sem nenhum motivo específico, gosto de acompanhar o desenvolvimento da trama e dos personagens de uma maneira que um único livro não consegue explicar.

O que há nessa série de tão especial? Inicialmente, Isabella Swan (que prefere ser chamada de Bella) tem que morar com seu pai, e se muda para uma cidadezinha chamada Forks, um lugar em que eu realmente gostaria de morar – sempre nublada, chuvosa, fria, com uma floresta exuberante ao seu redor. Lá, ela é atraída por um rapaz misterioso. Descobre que ele se chama Edward Cullen, e que tanto ele quanto a família dele é incrivelmente reservada. Bella tem a impressão de que há algo diferente no rapaz.

Quando Edward salva Bella de um acidente – ele impede que uma van colida com Bella afastando o carro com sua mão – a protagonista percebe que realmente há algo de muito diferente nele. Algumas páginas adiante, Bella descobre o que o leitor já sabe desde que leu a orelha do livro: Edward e sua família são vampiros.

Bella então percebe que está apaixonada por Edward. E que é correspondida.

Não pretendo “spoliar” mais ninguém, então paro com a descrição por aqui. Na realidade, achava que “Crepúsculo” não iria me agradar, por ser uma história com muito romance, e um romance muito inocente por assim dizer: já que Edward não pode beijar Bella por muito tempo (para não perder o controle e acabar se alimentando dela, já que ele mesmo explica que o sangue de Bella é irresistível), o namoro dos dois não passa de andar de mãos dadas e olhe lá, se não o namorado vampiro pode se descontrolar e te comer (por favor, não há sentido maldoso nesse último verbo).

Por isso, resolvi falar desse livro. Romances românticos nunca me agradaram, e este conseguiu me transformar em um acompanhador da trilogia (ou quadrologia, como diria minha amiga Hayanne). Já li o 2º livro da série e pretendo ler os outros dois em breve. Talvez o motivo de “Crepúsculo” ter me agradado tenha sido o implemento do elemento sobrenatural. A presença dos vampiros, somada ao clima sempre tempestuoso de uma cidade cercada por uma floresta, transforma um romance água-com-açucar em uma leitura que você se sente impelido a continuar lendo sem interrupções.

As cenas de ação, no entanto, deixam a desejar. Talvez pelo fato de sabermos que o livro possui 3 obras que continuam sua história, não nos empolgamos muito com o clima de terror que se instala na última parte do livro, já que sabemos que nenhum protagonista corre perigo verdadeiramente. Ou talvez a autora seja mesmo romântica e não tenha habilidade em escrever boas cenas de ação, o que é uma pena, pois o contexto da obra realmente a favorecia. Mas vou poder comentar isso melhor quando terminar de ler a série, provavelmente no início do ano que vem.

Como toda obra literária de sucesso, “Crepúsculo” já tem sua adaptação para os cinemas. Assisti ao filme ontem, e posso dizer que pela primeira vez uma adaptação literária ficou tão boa quando comparada com o livro. A trilha sonora do filme é realmente boa – estou escutando-a nesse momento. Confira o trailer do filme logo abaixo.

Por fim, concluo dizendo que “Crepúsculo” é um livro para ser colocado na sua lista de “quero ler”. Você não tem muito o que perder.  Aproveite, pois os preços estão bem convidadivos – adquiri o meu por R$ 19,00.

Boa leitura!

“A mão magra pegou um lápis; o coração pesado deu um pulo de esperança. O pacote para quem as palavras cruzadas seriam enviadas já estava selado, e endereçado. Talvez a verdade finalmente viesse à tona.”

Ao remexer a minha estante a procura de um livro para comentar hoje, resolvi falar de um pouco conhecido que ganhei de aniversário (amigos que possivelmente estejam lendo esse post, saibam que gosto de receber livros de presente) aos 16 anos: Vida Roubada, de Nero Blanc (que na verdade, foi escrito por um casal sob esse pseudônimo).

A história inicia-se com a descoberta de uma ossada no terreno de uma mansão em construção, cujas obras param para que haja a solução do crime. Taneysville é uma cidade tranquila, um clima nostálgico, sempre nublada, arborizada, um lugar bucólico e maravilhoso para se viver, até então. Aparantemente, essa velha comunidade possui alguns segredos.

O detetive particular Rosco Polycrates e a editora de palavras cruzadas Belle Graham tentam desvendar esse crime no “pacato” vilarejo, quando começam a aparecer palavras cruzadas com pistas para solucionar o crime. Nessa parte, o livro agrada ao leitor, pois as palavras cruzadas aparacem sem solução, no formato daquelas revistinhas que costumavamos comprar tempos atrás antes da internet. Isso é bom para o leitor mais corajoso, que tenta desvendar o crime junto com os protagonistas, ele tem a opção de solucionar as cruzadinhas presentes no decorrer da trama. O leitor mais preguiçoso pode optar em olhar as soluções nas últimas páginas e se dar por satisfeito.

Fora isso, a trama não oferece nada demais. As cenas de ação (se é que podemos considerar aquilo de “ação”) são extremamente fracas, não empolgam o leitor. Além disso, as cruzadinhas presentes no livro foram adaptadas pela “Coquetel”, tradicional editora de passatempos desse gênero no Brasil. Assim, percebemos logo de cara algumas charadas que não são importantes para a solução do crime, como “Árvore Carioca” e “Sigla do estado brasileiro que produz muito caju”, tornando as charadas realmente importantes muito óbvias, como “programa norte americano muito famoso nos anos 60, em inglês”.

Apesar disso, “Vida Roubada” pode agradar os leitores que gostam desse tipo de passatempo. A obra é agradável, leve e ágil.